O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou nesta segunda-feira (8) pedido de entrevista pelo jornal O Globo. O pedido faz parte de uma série de entrevistas do veículo com ex-presidentes da República. Lula justificou sua decisão ao jornalista Bernardo Mello Franco afirmando que “enquanto não for reconhecido e corrigido o tratamento editorial difamatório das Organizações Globo” não atenderá esse tipo de solicitação.
Lula lembrou a censura imposta a ele nos veículos da organização e o tratamento dispensado ao seu governo. Em especial, o ex-presidente acusa as Organizações Globo de terem “premiado” a perseguição jurídica montada contra ele pelo ex-ministro Sergio Moro, coordenador da Operação Lava Jato.
O ex-presidente, em sua resposta ao O Globo, destacou que as próprias sentenças judiciais contra ele são incapazes de apontar provas que sustentem as condenações que recebeu. “Fui condenado por ‘atos indeterminados’”, afirmou. Ainda assim, as decisões foram “celebradas” pelos veículos da família Marinho.
Além do veto imposto a ele nos veículos das Organizações Globo, já que a última entrevista sua foi dada ao canal por assinatura Globonews, em 2015, o ex-presidente também afirmou que houve “censura” às revelações trazidas pelo site The Intercept Brasil, no escândalo conhecido como Vaza Jato e que deveriam servir como base para a anulação de todos os processos de que foi réu no âmbito daquela operação.
A Vaza Jato deixou explicitado o conluio entre os procuradores do Ministério Público Federal em Curitiba e o então juiz Sérgio Moro, bem como as articulações com instâncias superiores e a manipulações de provas para garantir a sua condenação. Como consequência, Lula foi alijado do processo eleitoral de 2018, quando liderava todas as pesquisas.
A íntegra da carta de Lula
“Prezado Bernardo,
Agradeço o convite para uma entrevista para o jornal O Globo em uma série sobre ex-presidentes da República. Seu convite destoa da censura imposta pelas Organizações Globo. Não confundo as organizações com as diferentes condutas profissionais de cada um dos seus jornalistas.
O que me impede de atendê-lo é o notório tratamento editorial que as Organizações Globo adotam em relação a mim, meu governo e aos processos judiciais ilegais e arbitrários de que fui alvo, que têm raízes em inverdades divulgadas pelos veículos da Globo e jamais corrigidas, apesar dos fatos e das evidências nítidas, reconhecidas por juristas no Brasil e no exterior.
As próprias sentenças tão celebradas pela Globo são incapazes de apontar que ato errado eu teria cometido no exercício da presidência da República. Fui condenado por ‘atos indeterminados’.
Ao invés de ser analisada com isenção jornalística, a perseguição judicial contra mim foi premiada pelo O Globo. As revelações do site The Intercept foram censuradas, escondendo as provas de que fui julgado por um juiz parcial, em conluio com os promotores, que sabiam da fragilidade e falta de provas da sua acusação.
Enquanto não for reconhecido e corrigido o tratamento editorial difamatório das Organizações Globo não será possível acolher um pedido de entrevista como parte de uma normalidade que não existe, pelos parâmetros do jornalismo e da democracia.”