• O silêncio do leão
A recente postura combativa da OAB Goiás contra o delegado Humberto Teófilo, após a prisão de três advogados na Central de Flagrantes, levanta uma reflexão urgente:
Afinal, a Ordem dos Advogados do Brasil cumpre seu dever institucional na defesa ampla dos direitos humanos e da sociedade, ou atua seletivamente, escolhendo alvos conforme interesses e conveniências?
Não se trata aqui de defender ou atacar o delegado. A questão é mais profunda: por que essa mesma força não aparece em outros episódios que clamam, há anos, por uma OAB presente, forte e combativa?
• Caso Escobar, o silêncio também mata
O exemplo mais gritante desse silêncio é o assassinato de Fábio Escobar, em Anápolis — um crime que não terminou com uma, mas com nove mortes, incluindo uma mulher grávida de sete meses. Todos executados numa sequência de queima de arquivo para proteger interesses escusos.
O pai da vítima, José Escobar, protocolou ofícios à OAB e ao Tribunal de Justiça, pedindo socorro, proteção e providências. A resposta? Silêncio absoluto.
Nenhuma nota, nenhum movimento, nenhuma ação da OAB. E fica a pergunta: se a Ordem tivesse sido tão leão neste caso quanto foi contra Humberto Teófilo — delegado que, coincidentemente, foi deputado e oposição ao governo — será que hoje os acusados Jorge Caiado e Cacai Toledo estariam livres?
• Ipasgo, presídios e o medo da onça
E o silêncio não para aí. Basta olhar para o caos do Ipasgo — o plano de saúde dos servidores do Estado, sucateado, desmantelado e entregue sabe-se lá a quem, às custas do sofrimento de milhares de famílias goianas.
Onde estava a OAB? O que fez a OAB diante desse ataque aos direitos de milhares de cidadãos? Assim como ficou muda diante das constantes denúncias de tortura e violações nos presídios goianos, inclusive relatadas pela Pastoral Carcerária.
Parece que, quando o problema é grande demais — e, principalmente, quando cutucar a onça pode significar medir o tamanho da vara — a OAB prefere o silêncio confortável. E, lamentavelmente, só se transforma em leão quando o alvo é fácil, conveniente ou, quem sabe, politicamente interessante.
Cristiano Silva
Editor