Em nota divulgada na manhã desta quinta-feira (7/2) para comunicar sua destituição do comando da Academia de Polícia Militar, o coronel Karison Ferreira Sobrinho afirma ter sido informado que a decisão partiu do Governo de Goiás como resultado do sistema de monitoramento criado pela Secretaria da Casa Militar para espionar servidores.
No texto, o Coronel Karison faz as revelações com a ponderação de que o comandante-geral da PM, coronel Renato Brum, não pediu “nenhuma reserva” do teor da reunião em que a destituição foi comunicada. “Segundo me foi dito pelo comandante-geral, os posicionamentos que eu vinhatendo, manifestados em redes sociais e grupos de WhatsApp da Associação dos Oficiais a respeito do Governo, estavam causando desconforto, e que este seria o principal motivo de minha substituição”, diz Karison.
O ex-comandante da Academia Militar afirma ainda na nota que, na reunião “me foi dito que, conhecendo a estrutura da Casa Militar – uma vez que fui Subchefe da pasta no governo de José Eliton – seria possível que eu soubesse que haveria ali uma seção de monitoramento de fontes abertas responsável pela confecção de relatórios a respeito de posturas criticas de servidores”.
O monitoramento de fontes abertas é o eufemismo utilizado pela Casa Militar para definir o esquema de espionagem. Evidentemente, há tipos diversos de espionagem. No senso comum, o termo é atribuído àqueles que se infiltram em determinados grupos com o objetivo específico de coletar informações de interesse de terceiros. Há também os casos de quebras de sigilos sem autorização prévia. O primeiro não chega a ser ilegal, ao contrário do segundo. Mas ambos são uma imoralidade, fruto de maucaratismo.
Leia abaixo o texto na íntegra:
É com um misto de surpresa e pesar que comunico que deixo o Comando da Academia de Policia Militar, aguardando apenas as formalidades próprias para que isso aconteça.
Na manha de hoje fui convocado pelo Comandante Geral que, na companhia do Subcomandante geral e do Chefe de Estado Maior Estratégico, me comunicou sobre minha retirada.
Conforme fui informado, na data de ontem o Comandante-Geral teria sido chamado no Palácio das Esmeraldas e recebido determinação do Governo para que me retirasse do Comando da Academia de Policia.
Como não me foi pedido reserva em relação ao que fora tratado com o comandante geral, tenho tranquilidade para expor o teor da conversa e demonstrar as razões da minha indignação. Indignação que é ainda maior pela contradição entre a postura do Comando da Polícia Militar – que ainda ontem me parabenizava pelo trabalho que, juntamente com minha equipe vinha sendo realizado no CAPM – e a decisão que teve de tomar por determinaçoes superiores.
Segundo o que me foi dito pelo Comandante-Geral, os posicionamentos que vinha tendo e que eram manifestados nas redes sociais e em grupos de WhatsApp da Associação dos Oficiais a respeito do Governo estavam causando desconforto e que este seria o principal motivo de minha substituição. Me foi dito ainda que, conhecendo a estrutura da Casa Militar – uma vez que fui SubChefe da Casa Militar do Governo do Dr José Eliton – seria possível que eu soubesse que haveria ali uma seção de monitoramento de fontes abertas responsável pela confecção de relatórios a respeito de posturas criticas de servidores.
Tendo realmente participado do Governo anterior – como Policial Militar que sou e tendo tido muito orgulho de contribuir com meu Estado – jamais tive conhecimento de estrutura como a que foi retratada. Segundo o Comandante, desde o inicio de seu comando estaria sofrendo pressões e criticas em relação à minha indicação para o Comando da Academia, uma vez que sendo o único remanescente do Governo anterior em cargo de confiança e sendo responsável pela formação de toda a tropa, deveria ser dali retirado.
O pesar se deve ao fato de que, alem de entender que poderia contribuir com a minha Policia Militar na formação de todos aqueles que servirão a sociedade, percebi a vulnerabilidade de um policial militar no exercício de suas funções.
A surpresa de deve à fala do Comandante, que revelou que foi orientado a não mencionar que a determinação partiu do Governo, mas como não concordava com essa postura, decidiu me contar a verdade dos fatos.
Por fim, com muito constrangimento, o Comandante afirmou que agradecia o trabalho que vinha sendo prestado na Academia de Policia Militar e que não tinha nada em meu desfavor, não tendo sequer substituto para a função até então exercida por mim, mas que tinha que tomar aquela atitude pois “ou seria a minha cadeira ou a dele”.
Me despeço com a certeza de que vinha, com a ajuda da minha equipe, fazendo o melhor que podia, mas que ainda tinha muito mais a fazer. Aguardo a designação pra a nova funçao, uma vez que meus quase 28 anos de Polícia Militar me garantem bagagem e conhecimento para contribuir e o amor à minha Instituição me dá a vontade de continuar a lutar por nossa melhoria sempre.
Karison Ferreira Sobrinho – Coronel PM – Comandante da Academia de Policia Militar.