Sim, é verdade: o episódio da médica veterinária espancada no meio da rua pelo namorado, o personal trainer Murilo Morais, poderia ter ocorrido em São Paulo, na Bahia, em Roma ou em Tóquio. Mas aconteceu em Goiás – estado que ocupa a terceira colocação no ranking nacional em casos de feminicídio. Desconsiderar este contexto é relativizar, irresponsavelmente, as constantes agressões praticadas contra mulheres por machões e machistas que se julgam donos de suas parceiras.
São estes os machões que chamam o feminismo de “mimimi de esquerda”. Que torcem o nariz quando ouvem dizer que a Lei Maria da Penha tem um extenso caminho pela frente antes de se tornar um escudo efetivo contra a covardia masculina. Que saem às ruas vestidos com uniforme da seleção brasileira e se autointitulam “homens de bem” durante os protestos. Que bradam contra a corrupção, mas não suportam a existência de qualquer política de proteção às parcelas mais vulneráveis da população, como negros, gays… e mulheres.
A onda conservadora que tomou conta do país e que entronizou os tais “homens de bem” reverberou com mais força em Goiás por razões óbvias. Ainda é muito clara no Estado a influência da educação praticada por famílias do interior, vinculadas ao universo agrário e conservador. O blog convida o leitor a refletir: será que é coincidência o fato de Goiás ter dado a Bolsonaro uma das maiores votações proporcionais em 2018 e, ao mesmo tempo, ser um dos líderes do vergonhoso ranking nacional de agressão às mulheres?
Dispa-se de suas preferências político-eleitorais e pense no assunto.