O fundador de O Popular, Jaime Câmara, deu uma forte orientação política e ideológica para o jornal, enquanto esteve à sua frente.
Depois, com o bastão de comando passado para seu filho Jaime Câmara Júnior, o foco mudou: não só O Popular, como todo o Grupo Jaime Câmara foi fortemente profissionalizado e transformado em uma empresa altamente lucrativa,
Em compensação, Júnior Câmara (como é conhecido) desideologizou os veículos de comunicação do GJC, que passaram a receber uma orientação técnica e alienada – tanto que o seu diretor de jornalismo, Luiz Fernando Rocha Lima (que substituiu o mestre jornalista Domiciano de Faria, da era Jaime Câmara pai), nem sequer tem formação jornalística ou mesmo intelectual.
O resultado é que tanto os jornais quanto as televisões do GJC são dominados por uma visão corporativista, com apoio a todas as causas sindicalistas (que em um país como o Brasil de hoje são sinônimo de atraso), posições contrárias à livre iniciativa e totalmente contra a política – O Popular, por exemplo, condena não só os políticos como a própria atividade, enfim (já chegou até a defender o fim do Poder Legislativo).
É o único grande veículo de comunicação brasileiro com essa visão superficial e equivocada das relações sociais e econômicas do universo (o Estado) onde está inserido (e mudar esse padrão arcaico é o desafio do novo presidente, o neto de Jaime Câmara, Cristiano Câmara, mesmo porque a Rede Globo, quanto a TV Anhanguera, vem pressionando por mudanças modernizantes no jornalismo).
Quer um exemplo? Na edição deste sábado, O Popular afirma sem o menor espírito crítico que os grevistas da UEG realizaram na sexta-feira uma “assembleia geral” e decidiram manter o movimento.
Ora, para uma universidade que tem 19 mil alunos e 2.500 professores, a tal “assembleia geral” reuniu apenas 80 pessoas, que não conseguiram nem mesmo entrar em entendimento sobre a sua pauta de reivindicações e sobre quem os representaria em uma eventual negociação com o Governo do Estado (tem uma foto em plano geral no jornal O Hoje, dá pra contar: mais ou menos 80 pessoas).
A reportagem, da jornalista Patrícia Drummond, presta um desserviço aos leitores: não dá informações reais sobre a “assembleia” e santifica a suposta “causa” dos ainda mais supostos “grevistas” – uma vez que 95% da UEG funciona normalmente nos 42 municípios onde ela dispõe de salas de aula mais uma informação sonegada na matéria).
O título é espalhafatoso: “ASSEMBLEIA GERAL DECIDE PELA MANUTENÇÃO DE GREVE NA UEG”. Isso, para uma reunião com comparecimento ridículo, que não conseguiu completar nem mesmo um terço das arquibancadas de um pequeno ginásio de esportes da Esefego. “Assembleia geral”? Nunca.
Na verdade, não houve nem “assembleia geral” nem há “greve” – de resto esvaziada pelo detalhe, insignificante e não mencionado pela reportagem de Patrícia Drummond, de que o Governo do Estado já atendeu a todas as reivindicações sensatas e possíveis dos alunos e professores da UEG.
Da mesma forma, ainda nesta semana, O Popular, ao contrário do que fizeram os grandes veículos de imprensa, não submeteu as manifestações sindicais – que foram um fracasso retumbante em Goiás – a nenhum filtro crítico. A matéria de Malu Longo chega a hesitar, hesitar, mas não consegue superar a ânsia de respaldar e validar a “manifestação” – que, em São Paulo, a Folha corretamente classificou de “mecânico, sem alma, burocrático e artificial” (centrais sindicais não representam mais ninguém no Brasil, a não ser suas próprias diretorias).
O Popular faz a cobertura, mas não discute verdadeiramente o que está acontecendo nem fornece ao leitor todas as informações para que ele chegue a uma conclusão sobre a verdade dos fatos.
Voltaremos ao assunto.
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