segunda-feira , 23 dezembro 2024
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Aliados de Iris dizem ao jornal Opção que, em vez de repetir o velho jogo de não se declarar candidato, Iris faria melhor ao PMDB se apoiasse a renovação 

Eleições majoritárias com a participação de Iris Rezende (PMDB) já se incorporaram à tradição política de Goiás, assim como a relutância que o velho cacique sempre demonstra em investir-se no figurino de candidato. Às vésperas da disputa pela prefeitura de Goiânia, Iris mais uma vez repete o manjado jogo de não se declarar interessado pelo cargo para, no prazo final, dizer que mudou de ideia depois de receber um “chamado de Deus”. Só que dessa vez seria melhor que ele vestisse polainas e se aposentasse, na opinião de peemedebistas ouvidos pelo Jornal Opção. Eles acreditam que chegou o momento da renovação.

Confira o texto na íntegra (quem o assina é o jornalista Cézar Santos): 

Um jogo de negaças. É o que o decano peemedebista Iris Rezende sempre faz, por ocasião de disputas eleitorais majoritárias em que ele é o nome do partido para o embate. Dessa vez não tem sido diferente, o que suscita algumas dúvidas.

Essa indefinição serve a quê?

Por que ficar na “moita”, deixando na incerteza seus correligionários, e depois surgir como candidato?

Iris estaria “cozinhando” a militância como forma de pressão para que seus liderados viabilizem recursos financeiros suficientes para a disputa? Afinal, a “sovinice” do decano é notória.

Peemedebistas dizem, em off, que é muito difícil atuar politicamente nessa situação.

Como entabular alianças?

Como conversar com possíveis aliados, se o nome maior do partido não se define?

Essas vozes afirmam que está faltando a Iris a atitude de um verdadeiro líder, porque o verdadeiro líder assume, não se esconde, não foge de compromissos.

No mês passado, numa reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Goiânia (Codese) com os pré-candidatos a prefeito da capital, Iris disse que neste momento a preocupação dele é quanto ao atual momento político-econômico que atravessa o país e por isto ainda não teria pensado se disputará ou não o pleito na capital.

Essa atitude de Iris denota uma percepção irreal da própria importância. Afinal, que diferença fará na solução da crise nacional o fato de ele estar ou não preocupado?

Na terça-feira, 21, em entrevista ao Jornal Opção, os deputados estaduais Bruno Peixoto e José Nelto disseram que Iris lançará sua pré-candidatura à Prefeitura de Goiânia entre os dias 10 e 15 de julho. Mas em entrevista a uma rádio no dia seguinte, Peixoto, que é presidente do PMDB metropolitano, disse que até o dia 5 de agosto o partido terá uma definição.

A demora, pelo que o deputado disse, se dá porque Iris está em contato com o além, “conversando com Deus”. A fala do deputado: “Ques­tões pessoais, (Iris) está em momento de oração. Todos nós sabemos que Iris tem temor a Deus e aguarda um toque para que deixe seu nome à disposição do partido”.

Já o prefeito Maguito Vilela disse que as demora de Iris é mesmo esperteza de raposa política. “Isso é sabedoria. Com as mudanças nas regras eleitorais, a campanha agora é ‘um tiro curtíssimo’, então, para um político mais experiente, mais conhecido, quanto mais demorar é melhor, para não iniciar uma campanha extemporânea”, afirmou o prefeito na quinta-feira, 23.

Lembrando que a pré-candidatura era para ser anunciada na primeira quinzena de junho. Depois, disseram que será em julho. E agora o presidente Bruno Peixoto afirma que a decisão fica para agosto, no prazo limite para realização das convenções.

Especula-se sobre os motivos desse jogo. Uns afirmam que Iris realmente está em dúvida, motivado pelo medo de perder a eleição para um adversário que também tem um discurso populista, capaz de canibalizar seus votos, o que seria uma tragédia política quase igual à fragorosa derrota de 1998.

Outros acreditam que Iris teme denúncias que podem surgir logo, referentes a suposto envolvimento dele com a enroladíssima empreiteira Odebrecht. Conversas nesse sentido são antigas, mas nota do jornalista Leandro Mazzini, do portal UOL, em abril, reacendeu a polêmica.

Eis a íntegra da nota, sintomaticamente intitulada “Fogo no pasto: ligação com Odebrecht deixa Iris Rezende na moita”:

“O ex-governador de Goiás Iris Rezende ainda não explicou muito sobre sua megafazenda Estrela em Canarana (MT). Ano passado a Coluna revelou que Emílio Odebrecht desceu de jatinho na pista da propriedade, para um papo com o ex-governador. Ago­ra, a revista Época publica que do­cumentos do extinto Serviço Na­cional de Informação (SNI) ligam a fazenda a dinheiro doado pela Odebrecht nos anos 80. Iris nega.”

A verdade é que se surgirem novas ou se requentarem velhas denúncias, Iris poderá ter um baita problema na campanha, pois fatalmente teria de ficar se explicando. Daí, dizem, o titubeio dele em se anunciar candidato.

Muitos peemedebistas dizem que melhor que fazer esse velho jogo de político matreiro, seria Iris Rezende começar a liderar a renovação na sigla. De que forma? Simplesmente, apoiando claramente algum jovem líder peemedebista. Seria ele dizer: “eu não vou disputar, mas vejo em fulano condições efetivas para disputar e vencer. Eu apoio esse fulano, vou subir no palanque e pedir voto para ele”.

Aliás, foi exatamente isso que Iris fez com Paulo Garcia, viabilizando a reeleição tranquila do pe­tista, no primeiro turno, em 2012.

Não há dúvida de que Iris Rezende é o maior nome do PMDB goiano. E um dos maiores líderes da política goiana em todos os tempos. Com seu alentado currículo, ele não precisa mais “provar” nada nesse sentido.

Renovação

E justamente pela sua história e pelo que representa, ninguém tem dúvida também que a renovação no PMDB não caminha se ele, Iris, não comandar esse processo. A observação é tão mais importante na medida em que se sabe que o maior problema do PMDB é a falta de novos nomes para eleições majoritárias.

E que se faça justiça, Iris até dá espaço para jovens valores. Mas apenas na medida em que eles não ponham sua liderança em questão. Nos idos dos anos 1980, foi assim com Maguito Vilela, que até cresceu além do ponto que Iris queria, mas foi barrado pelo decano quando ameaçou a hegemonia irista de fato.

Não custa lembrar: para o PMDB, em 1988, a candidatura de Maguito à reeleição era o mais recomendável. Iris não deixou, foi ele mesmo para uma campanha que se apresentava ganha por antecipação e o resultado todos sabem: o PMDB perdeu a eleição para o PSDB do jovem deputado federal Marconi Perillo e nunca mais viu a cor do poder no Estado.

Não há como saber, mas fosse Maguito o candidato, talvez a história tivesse sido diferente. De lá para cá, novos nomes surgiram na seara peemedebista, sempre sob o beneplácito de Iris. Assim, citando ao acaso e rapidamente, os mais expressivos: Thiago Peixoto, Wagner Siqueira, Agenor Ma­riano, Francisco Júnior, Bruno Peixoto, Daniel Vilela.

A questão é que, repita-se, esses nomes tiveram espaço relativo na medida em que não pusessem o poderio de Iris em questão. Eles ocuparam cargos importantes na administração municipal em Goiânia nos dois mandatos do decano, disputaram e ganharam mandatos na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa, sobressaíram-se na medida do valor de cada um.

Mas logo ficou claro que Iris não cederia espaço a nenhum deles para uma disputa majoritária. Dessa forma, dois dos mais destacados desses jovens, Thiago Peixoto e Francisco Júnior, debandaram, foram cuidar da vida, batalhar espaço e possibilidades políticas mais interessantes do lado do adversário maior, o tucano Marconi Perillo.

Thiago logo assumiu cargo no primeiro escalão do governo marconista e realizou um trabalho destacadíssimo na pasta da Educação. Francisco também se posicionou na base aliada do tucano, formando no batalhão de frente de Marconi na Assembleia Legislativa.

Daniel Vilela foi um caso à parte. Por valor próprio e sob a influência do pai, Maguito Vilela, galgou posições à revelia de Iris, não saiu do PMDB e cresceu a ponto de desafiar a liderança irista. Em 2014, na disputa por cadeira na Câmara Federal, Daniel desbancou ninguém menos que Iris de Araújo.

Mais recentemente, o jovem deputado ousou disputar a presidência da sigla, impondo uma derrota acachapante ao candidato bancado por Iris Rezende, Nailton Oliveira. Daniel ganhou o comando do PMDB porque há uma insatisfação com a falta de renovação no partido. E há no partido a consciência de que essa renovação só não acontece porque Iris não deixa.

Mas agora, no momento em que o PMDB se prepara para disputar a Prefeitura de Goiânia — projeto crucial para a sigla, que está alijada do poder estadual e precisa ganhar a principal cidade goiana para ter condições mínimas de pleitear o governo em 2018 —, Iris Rezende é de novo o nome peemedebista. Ele lidera as pesquisas, embora numa posição não confortável de empate técnico com o deputado federal Waldir Soares (PR).

Mas, com empate técnico ou não, como sempre Iris é o nome do PMDB para mais uma eleição majoritária. E novamente, o decano faz o jogo de negaças ao não se declarar candidato, deixando a decisão para a undécima hora.

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