segunda-feira , 23 dezembro 2024
Goiânia

No dia em que Paulo Garcia inaugurou teleférico, Diário da Manhã publica reportagem em que diz que “corrupção brinca no Parque Mutirama”

Diferente da quase totalidade da imprensa goiana, que agiu de maneira acrítica ao relatar a segunda inauguração do teleférico do Mutirama, o Diário da Manhã publica nesta terça-feira uma reportagem que resgata o histórico de escândalos e corrupção que envolvem o parque desde que Paulo Garcia (PT) assumiu a prefeitura de Goiânia. O texto é assinado por Welliton Carlos.

Confira:

A corrupção brinca no parque Mutirama

Teleférico começa a funcionar após polêmicas denúncias de corrupção no parque

Dois anos antes do ex-prefeito Iris Rezende propor reforma radical no parque Mutirama, o então vereador Gari Negro Jobs, falecido em 2011, apareceu com um projeto embaixo do braço: nele, um novo Mutirama teria um túnel ao lado, teleférico e mirante.

Por onde andava com o projeto, Jobs era motivo de piada. Ninguém dava ouvidos ao vereador. Quando o então prefeito Iris Rezende propôs o lançamento das reformas, Jobs ficou surpreso. O sonho dele seria colocado em prática.

Menino de rua quando ocorreu a inauguração do parque em 1969, com Iris prefeito na época, o vereador afirmava que “a ideia dele” seria barata e fácil de fazer. Jobs fez até as projeções de custo da reforma, que ficaria entre R$ 5 e R$ 15 milhões.

Anos depois de sua morte, o parque Mutirama se prepara para dar mais um passo: a partir de amanhã, o teleférico passa a funcionar, tendo o prefeito Paulo Garcia a função de inaugurá-lo sob olhares curiosos e incrédulos.

De imediato, o que mais espanta é o esquecimento das iniciativas do vereador em conceber a ideia. E pior ainda: as suspeitas de corrupção que se iniciaram dentro do parque.

Na verdade, a suspeita de corrupção brinca dentro do Mutirama, com suspeitas de superfaturamento, falta de qualidade dos equipamentos e insegurança.

Até agora pouco se sabe, de fato, sobre o quanto foi gasto com o parque. Orçadas em R$ 80 milhões, as obras foram paralisadas inúmeras vezes.

Conforme o vereador Elias Vaz, o mais grave de imediato era o valor da Montanha Russa. Na época, ele denunciou que a prefeitura pagou pelo modelo mini R$ 794 mil. Já o equipamento junto ao fabricante chinês custava R$ 44.800.

Por sua vez, a grande montanha-russa foi vendida pela Prefeitura por R$ 2,6 milhões. O modelo comercializado para os goianienses tem 40 anos de uso. Já uma bem mais recente, de 2004, poderia ser comprada por 175 mil dólares – cerca de R$ 600 mil.

Inicialmente, a gestão do Mutirama passou pelas mãos de administradores indiciados pelo partido socialista PC do B. Depois, o próprio PT passou a ser o gestor do parque através de indicados de políticos da legenda.

Uma ação proposta pelo Ministério Público em agosto de 2014 processou o prefeito Paulo Garcia, Jairo Gomes das Neves (diretor do parque), JF Produtos Serviços Equipamentos, Wanderlei Pires, Life Produtos e equipamentos de limpeza, Francisco Divino da Cruz e a Prefeitura de Goiânia por improbidade administrativa.

Uma das técnicas utilizadas pelos suspeitos seria a manjada dispensa de licitação. Jairo Gomes, então diretor do Mutirama, teria sido orientado pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) e ainda sim ignorado a recomendação.

De acordo com o vereador Djalma Araújo, o Mutirama é “uma das várias irregularidades da gestão atual”. “E o que é pior: coloca em risco crianças. Afinal, quando você paga preço de novo em produto velho você espera o que? Risco”, diz.

Após várias polêmicas, o parque terá o teleférico. Cada uma das cabines transportará oito pessoas por viagem. Conforme a Prefeitura, a estrutura das cabines e todo o sistema montado custou cerca de R$ 5,5 milhões.

Sebastião Peixoto, responsável pelas obras, este será o teleférico mais em conta do mundo. Ele disse que pegou a administração do Mutirama na época em que a Prefeitura gastava R$ 400 mil na manutenção do parque. “Nos últimos tempos, destinava apenas R$ 70 mil”, diz.

As obras e inaugurações foram adiadas varias vezes. Paralisadas em 2012, as obras voltaram com força total em 2014. Mas a inauguração que deveria ter ocorrido no aniversário da capital ainda não ocorreu.

Na época, a gestão teve uma ideia maluca: inaugurar a obra. Mas entregá-la apenas um mês depois para efetivo funcionamento. Como a ideia não vingou, os gvestores decidiram adiar a novidade.

Não é só Jairo Gomes que está na lista negra do Ministério Público. O ex-secretário de Esporte e Lazer, Luiz Carlos Orro, que cuidou das primeiras reformas, também foi acionado na Justiça.

 

Empresa de equipamentos médicos foi contratada para fazer reparos em brinquedos

As suspeitas de ‘mutretas’ no parque são muitas. Há quatro anos, a Prefeitura de Goiânia fez um contrato emergencial, sem realizar licitação, com a empresa Ita Entretenimentos para prestar serviços de manutenção de brinquedos no Parque Mutirama. No entanto, o Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO) julgou ilegal a contratação.

Teleférico será a novidade das férias, mas histórico do parque é de inúmeras suspeitas de irregularidades
No ano seguinte, Jairo Gomes das Neves assumiu a gestão do parque e os procedimentos licitatórios em curso não foram efetivados sob a justificativa de que os valores eram absurdos e que a gestão desse tipo de serviço feita diretamente pela Prefeitura era mais vantajosa que a terceirização. Porém, contradizendo sua decisão anterior, Jairo fez um contrato emergencial com dispensa de licitação com a empresa JF Produtos, Serviços e Equipamentos de Limpeza e Hospitalares, no valor de R$ 1.380 milhão com a autorização do prefeito Paulo Garcia. O leitor leu bem: uma empresa especializada em equipamento hospitalar realizaria os reparos necessários para que os brinquedos não colocassem em risco as crianças.

ELETROMECÂNICA

A sociedade comercial contratada deveria prestar serviços de manutenção preventiva e corretiva dos brinquedos, fornecer materiais, peças de reposição, além de aspectos mecânicos, elétricos, eletromecânicos, serralheria, marcenaria e soldagem. Mas a Controladoria Geral do Município (CGM) questionou a cotação de empresas que não eram do ramo, a ausência de pesquisa de preço e a justifica para a escolha da empresa JF.

De acordo com o Ministério Público, com o intuito de justificar o porquê da contratação da empresa JF, uma cotação de preço foi realizada pela Life Produtos e Equipamentos de Limpeza e Hospitalares, entretanto, a formatação do documento era idêntica à da JF e as empresas tinham sede no mesmo endereço. Além do ex-sócio da JF, Francisco Divino da Cruz, ser o sócio majoritário da empresa Life.

O Ministério Público entrou com Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa com pedido de medida cautelar incidental contra o prefeito Paulo Garcia, Jairo Gomes das Neves, a empresa JF, a empresa Life, Francisco Divino da Cruz e Wanderlei Tomas Pires (sócio da empresa JF).

Por outras supostas irregularidades, o ex-secretário de Esporte e Lazer, Luiz Carlos Orro, também foi acionado na Justiça. Consultados pela reportagem do Diário da Manhã, os magistrados responsáveis pelo caso adiantam que é possível que nas próximas semanas o Poder Judiciário dê alguma resposta para a população.

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