Há quanto tempo não se ouve falar em abalos na relação entre a Assembleia Legislativa e o governo do Estado? Mais: há quantos meses não se noticiam escândalos relacionados à gestão da Casa?
Iniciou-se um período inédito de calmaria na Assembleia desde que o deputado estadual José Vitti (PSDB) entrou em cena como protagonista da base aliada – primeiro como líder da bancada governista e, mais recentemente, como presidente do poder Legislativo. Esta é a tese central do artigo assinado pelo jornalista Afonso Lopes no jornal Opção desta semana.
Confira na íntegra:
Assembleia assegura tranquilidade
De todos os períodos administrativos comandados pelo governador Marconi Perillo, o atual é o mais seguro e tranquilo
Desde 1999, quando assumiu o governo do Estado pela primeira vez, jamais o governador Marconi Perillo viveu um momento de sustentabilidade política como agora.
Administrativamente, é claro que muita dessa tranquilidade tem a ver com o programa Goiás na Frente, que atende os pedidos de todos os prefeitos de Goiás independentemente do partido ao qual estão filiados. Esse procedimento republicano tem merecido elogios até de arqui-rivais do tucano. Mas nem tudo se explica em relação à estabilização política da administração apenas com esse programa administrativo. A Assembleia Legislativa é de onde emana essa boa maré. E isso é resultado imediato da liderança interna exercida pelo deputado José Vitti, empossado na Presidência em fevereiro deste ano.
O próprio governador destacou esse fato em solenidade promovida pelo Clube dos Repórteres Políticos de Goiás. Para Marconi, Vitti conseguiu pacificar as demandas políticas na Assembleia Legislativa, não apenas internamente como também na base aliada estadual. Pode-se alegar, e com inteira razão, que Marconi liderou a maior vitória eleitoral de todos os tempos, em 2014, com a base aliada saindo das urnas com maioria absoluta. Mas uma rápida comparação com a agitação que havia antes mostra que quanto maior é a base, maior a dificuldade de sua administração.
É onde entrou o presidente José Vitti. Ele passou os dois primeiros anos do atual período administrativo como líder do governo. E foi exatamente como líder que ele conquistou a segurança e o respeito inclusive dos deputados oposicionistas. Essa é a pacificação que se vê, sem anular a atuação dos deputados e sem delimitar o espaço de atuação política de cada um, seja governista ou opositor.
O resultado é que a Assembleia Legislativa se transformou num fator de equilíbrio político que reflete no astral do próprio governo. E, particularmente, José Vitti viu seu prestígio pessoal disparar no alto tucanato estadual. Hoje, não há praticamente nenhuma grande decisão que não passe por ele. O que aconteceu foi o preenchimento de um vácuo que existia dentro da base e fora do Palácio. Antes, apenas Marconi e o vice-governador José Eliton enfrentavam as tematizações críticas tanto no campo administrativo como político apresentadas pelos opositores. Desde a sua chegada à Presidência, Vitti também entrou nesse jogo, e fechou assim um elo que parecia aberto há muito.
Qual será o futuro dessa ação do presidente da Assembleia Legislativa? Inicialmente, ele é candidato à reeleição, e apóia candidatura de José Eliton à sucessão de Marconi. Ou seja, a vaga preferencial na chapa da base aliada é, sim, do vice-governador, que deverá exercer o governo em plena sucessão. Mas há comece a observar que se for necessário uma alteração estratégica nesse planejamento, Vitti se tornou a alternativa viável a ser trabalhada.
A hipótese é extremamente remota. Não há outro caminho para o vice-governador que não seja uma candidatura ao governo. Ou então ele teria que abrir mão de qualquer disputa em 2018. Coisas da regra sobre a reeleição. Um governador pode disputar um segundo mandato consecutivo, mas se quiser mudar para qualquer outro cargo público, ele tem que desincompatibilizar. Como Marconi deverá fazer no primeiro semestre do ano que vem, quando deixará o comando do Estado para buscar uma das duas vagas de senador ou um vôo nacional, como candidato a vice-presidente ou mesmo presidente da República.
Nesse caso, José Eliton assumirá o governo, e somente poderá disputar a eleição como candidato à reeleição. A hipótese Vitti só faz sentido se José Eliton abandonar a sua candidatura ao governo, e disputar, por exemplo, vaga na Câmara dos Deputados. Nesse caso, o comando do Estado passaria para José Vitti, como segundo na linha sucessória estadual, recompondo assim a estrutura de reeleição dentro da base aliada. Convenha-se, é muita ginástica política para se chegar a esse ponto.
Vitti não está preocupado com essas questões, que ficam muito bem dentro de bolas de cristal sobre previsões e possibilidades futuras. Ele ganhou espaço e atenção dentro do núcleo central do governo exatamente por se comportar sempre dentro da linha cooperativa para o conjunto. Ele não discute nem mesmo a possibilidade de disputar a Câmara dos Deputados. Se tudo se desenvolver sem uma enorme surpresa no meio do caminho, ele deve disputar novo mandato de deputado estadual. É para isso que ele tem atuado politicamente. Sem mosca azul voando ao se redor.