O calendário de eventos culturais de Goiás receberá, ainda em 2017, o valioso reforço da cachaça. Ela será a estrela de um circuito que passará por pelo menos 12 municípios do Estado. O evento, organizado pela deputada estadual Eliane Pinheiro (PMN), Sebrae e Goiás Turismo em parceria com prefeituras, vai estimular a profissionalização dos alambiques e transformar a bebida em mais uma vitrine para turistas.
A deputada afirma que o circuito, além de gerar receita, vai estimular a saída do mercado informal com a criação de um selo de qualidade. A formalização, por sua vez, criará mais empregos. “Um alambique que produz 30 mil litros por ano hoje emprega, em média, quatro pessoas. Em pouco tempo a gente consegue elevar a produção de cada uma destas ‘empresas’ para 70 mil, pelo menos”, diz Eliane.
Um dos municípios que apostam no potencial transformador do circuito é Orizona, na região oeste do Estado, berço de cachaças famosas já extintas como Marçalina e Dito Pedro. Muitos dos pioneiros que ajudaram a fundar o município, no início dos anos 1700 (ainda com o nome de Campo Formoso), eram produtores foragidos que haviam participado da Revolta da Cachaça, em Minas e Rio de Janeiro, contra o Fisco português.
O prefeito de Orizona, Joaquim Marçal (PSDB), vê o circuito como oportunidade para resgatar a história da cidade, mas além disso melhorar a receita da prefeitura, que passa por dificuldades. “Já tivemos aqui cerca de 70 alambiques. Hoje são uns 25, poucos são legalizados. A maioria está na ilegalidade. Queremos que sejam os melhores do Brasil”, afirma.
Eliane e o prefeito Joaquim discutem, há meses, com técnicos do Sebrae e do governo do Estado a proposta de criar um Arranjo Produtivo Local (APL) da cachaça, que consiste em criar um ambiente para que este determinado setor da economia se desenvolva e alavanque as finanças do município. “Existe um enorme potencial a ser aproveitado. O exemplo de Salinas, em Minas Gerais, é a prova de que a cachaça pode sim virar um dos carros-chefes da região”, afirma a deputada.
A ideia empolga José Natal, dono de um alambique que produz 30 mil litros por ano. A empresa dele é chefiada por ele e duas pessoas da família e, nos meses da colheita da cana (outubro e novembro), emprega mais três ou quatro. “Atualmente é uma atividade de sobrevivência dos produtores da região, mas pode ser muito mais do que isso”, afirma. Ele é um dos integrantes da recém-criada Associação de Produtores e Amigos da Cachaça de Orizona (Apacor), que reúne também microempresas da região da estrada de ferro.