Caco Barcellos, autor dos livros de jornalismo investigativo mais importantes do País, é tratado como ídolo por estudantes de Comunicação. Mas a despeito da admiração, estes jovens não têm seguido a cartilha que ele prega. Principalmente no que tange ao jornalismo declaratório, acrítico, que se limita a reproduzir o que dizem autoridades sem questioná-las de verdade e sem apontar contradições latentes. Estes jornalistas também são responsáveis pela crise ética que vive o País.
Na última quinta-feira, Caco participou de um evento na cidade de Joinville, em Santa Catarina e usou, como exemplo para justificar a sua tese, os jornalistas que cobrem a operação Lava Jato: “Ouve-se muito dizer: a gente não trabalha com cobertura política porque a gente não gosta de ‘blá, blá, blá’. Tudo que está em torno disso envolve o trabalho do Ministério Público. Não tem trabalho efetivo dos jornalistas. Os jornalistas reproduzem o que os promotores fazem”. A afirmação foi publicada no jornal catarinense A Notícia.
Não se trata de tutelar a opinião dos leitores/telespectadores ou de duvidar do seu discernimento. Trata-se de agir como verdadeiro interlocutor das pessoas junto às autoridades, em vez de receptor mecânico das mensagens vomitadas por políticos, promotores, procuradores, juízes e etc. Trata-se de compreender que o jornalista tem – ou deveria ter – informações necessárias para apontar incoerências em discursos, declarações ou notificações. Calar-se durante todo o tempo contribui para o aprofundamento da crise moral do Brasil.
Reajam, jornalistas. A profissão de vocês vai além de segurar microfone ou gravador.