Texto publicado no site GBrasil (clique aqui para acessar)
Em artigo publicado na Folha de S. Paulo deste sábado, o senador Ronaldo Caiado (DEM) critica políticos por antecipar o debate eleitoral e por dar contornos ideológicos a discussões que deveriam ser pautadas pelo rigor técnico. A crítica seria irreparável se não fosse um “porém”: isto é exatamente o que ele está fazendo em Goiás, com o objetivo de promover a sua candidatura a governador em 2018.
No artigo, Caiado fala de violência rural, que segundo ele está em segundo plano apesar da importância do agronegócio. O senador culpa o PT e o ex-presidente Lula de promover milicianos do Movimento Sem-Terra (MST) e de imputar aos agricultores a pecha de retrógrados. Ele deixa de lado o rigor técnico que prega no artigo quando, de forma polêmica, compara Lula ao ditador soviético Josef Stálin.
A “separação entre o político e o institucional”, que Caiado defende, fez falta quando o senador arvorou-se na discussão sobre a privatização da Celg, empresa de fornecimento de energia de Goiás. O parlamentar fez vistas grossas ao fato de que a política de privatização no Brasil tem sido bem sucedida porque, além de dar a empresas públicas o dinamismo do setor privado (como aconteceu na telefonia), ainda acaba com o cabedal de empregos comissionados.
Em vez de colaborar com a formatação do melhor contrato de venda da companhia, o senador preferiu distribuir caneladas contra o governador Marconi Perillo (PSDB), a quem trata como inimigo. Ironicamente, o discurso anti-privatista de Caiado fez com que, por alguns instantes, ele se parecesse com os petistas que combate. Metamorfoseou-se para antecipar o debate eleitoral – prática que ele agora critica.
Há outros exemplos que saltam aos olhos e que escancaram a incoerência do senador no artigo deste sábado, como as diatribes aos radares de velocidade nas rodovias goianas e o discurso oportunista contra as políticas de segurança pública de Goiás (Caiado é contra até a convocação de 2,5 mil novos policiais militares). Sorte do pré-candidato a governador do DEM que papel aceita tudo.