A reportagem “Para onde vai a América do Sul?”, publicada na edição deste domingo de O Popular e assinada pelos repórteres Márcia Abreu, Gabriel Lisita e Gilberto G. Pereira, é um show de infantilismo ideológico incompatível com a importância das páginas do principal veículo de comunicação do Estado – e, mais ainda, reflete uma visão do mundo que contraria as posições liberais dos donos do Grupo Jaime Câmara.
Entretanto, salta do texto a imagem de que a direita representa o mal e a esquerda, o bem. Essa linguagem, nos dias de hoje, já foi abandonada pelo setor mais avançado do jornalismo brasileiro.
Assim, a matéria resume a política dos países sulamericanos a uma definição rasa de direita e esquerda, quando o texto é de responsabilidade dos jornalistas, mas, felizmente, esse viés é jogado por terra quando são publicadas as opiniões de especialistas como o diplomata Marcos Azambuja, que enxerga na ebulição política de países como a Argentina e o Brasil apenas um esforço modernizador e de integração com a comunidade comercial do primeiro mundo, aliado a um cansaço das suas populações com a corrupção e o populismo barato.
Os donos O Popular, em especial o atual presidente do Grupo Jaime Câmara, o engenheiro Cristiano Roriz Câmara, compartilham de uma forte convicção liberal, contrária à intervenção do Estado na economia e a favor da racionalidade nas decisões governamentais – exatamente o inverso do que o jornal prega no seu dia a dia, como, por exemplo, nesta semana, quando defendeu o corporativismo dos funcionários públicos e a posição contrária à adoção do modelo de gestão por Organizações Sociais nas escolas estaduais, que perpassa as matérias sobre o assunto publicadas em O Popular.