segunda-feira , 25 novembro 2024
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Críticas histéricas às polícias não ajudam a resolver o problema da Segurança Pública. O problema está na indulgência da lei, afirma jornalista Afonso Lopes

A forte comoção provocada por assassinatos estúpidos, como o que tirou a vida de uma estudante secundarista em Goiânia na segunda-feira, desvirtuam o debate sobre Segurança Pública e nos empurram no rumo contrário ao das soluções. A opinião é de Afonso Lopes, um dos mais experientes e qualificados jornalistas de Goiás.

Em seu blog, Afonso condena a histeria das redes sociais e escreve que o verdadeiro nó górdio da batalha contra a criminalidade não está na propalada ineficiência das polícias Civil e Militar, mas na indulgência da lei, que não pune de forma justa os responsáveis pelos crimes.

“No universo das leis penais brasileiras existe uma única e solitária “arma” jurídica que de certa forma ainda mantém de pé o princípio da punibilidade de bandidos: a lei dos crimes hediondos. E mesmo assim, ela não é 100% eficaz. É pouco para um país em guerra”, diz o jornalista.

Confira o texto na íntegra:

Goiânia: há exatamente dois anos, Wanessa foi assassinada ao sair da escola

O assassinato de Wanessa, uma garota de 19 anos, em fevereiro de 2014, aconteceu na porta de um colégio no setor Central, em Goiânia. Um casal de moto a abordou para lhe assaltar. Wanessa se apavorou, tentou escapar, e foi assassinada a tiros pelo garupa, uma mulher.

Natália, de 18 anos, morreu exatamente da mesma forma. Casal de moto, em um assalto, com o tiro fatal disparado pela mulher. A única e talvez sutil diferença é que Natália não teria tentado fugir.

Tanto em um caso como no outro, há um grito por justiça. As polícias civil e militar de Goiás vão se esforçar para prender a bandida e seu comparsa. Pelo histórico de desempenho, é bem provável que ambos vão ser presos. Mas não será feita justiça.

Em momentos assim, de forte comoção provocada por assassinatos tão estúpidos, uma das tendências massificadas é reclamar do número de policiais. Há realmente uma relação no Brasil todo entre policiais X população bem abaixo do recomendado por organismos internacionais. Mas o problema brasileiro não é esse. Por mais que encham as ruas de policiais, ainda assim a violência será cada vez maior, como tem sido ao longo das últimas décadas.

É necessário constatar o óbvio: quem nos mata, como nos casos de Wanessa e Natália, não são aqueles e aquelas que puxam os gatilhos, mas a impunidade deles. Enquanto a intelectualidade brasileira se preocupar mais com eventuais casos de violência praticados por policiais e menos com a crueldade de ação dos bandidos, estaremos fazendo tudo errado.

No universo das leis penais brasileiras existe uma única e solitária “arma” jurídica que de certa forma ainda mantém de pé o princípio da punibilidade de bandidos: a lei dos crimes hediondos. E mesmo assim, ela não é 100% eficaz. É pouco para um país em guerra.

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