O comício gigante da campanha das Diretas Já, em Goiânia, em 12 de abril de 1984, é tema de um livro lançado há pouco pelo escritor Iuri Godinho, que traz uma visão, digamos assim, complacente do evento, celebrado até hoje como o maior do país na época da luta pela redemocratização – o que não é verdade, já que o comício da Praça da Sé, em São Paulo, na mesma época, reuniu muito mais gente.
Iuri Godinho não faz questão, no livro, de se aprofundar sobre uma questão essencial para a análise do comício: quanto custou? E de onde saíram os recursos que permitiram a sua realização, com a mobilização, segundo cálculo do próprio escritor, de 250 mil pessoas na Praça Cívica para ouvir oradores como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Lula e outros menos cotados da campanha pró-eleições diretas, além da cantora Fafá de Belém entoando o hino nacional?
“Iris Rezende era o governador da época e eram os gestores que organizavam os comícios. Ele era articulado nacionalmente e deu as condições materiais para que o comício fosse daquela proporção”, escreve Iuri Godinho, esquecendo-se de uma regra fundamental para as democracias: ainda que em defesa de causas justas, recursos públicos não podem ser usados fora da sua destinação legal – e financiar comícios (as “condições materiais” a que se refere Iuri) nunca foi uma dessas finalidades.
O comício só foi possível pela força e pelos gastos da máquina do governo do Estado, na época. E esse capítulo da história ainda está à espera de ser contado.