Em artigo publicado nesta segunda-feira no jornal O Estado de S. Paulo, o jornalista José Roberto Toledo chama o DEM, partido do senador Ronaldo Caiado (DEM), de “melhor perdigueiro político que Brasília já criou”. Isto porque apesar de ser ruim de voto, só não desfrutou do poder de 1985 (ano de sua fundação, como PFL) para cá em governos para os quais não foi convidado.
Confira:
Huck e o faro do DEM
O abandono da pré-candidatura presidencial de João Doria pelo DEM é relevante não por de onde o partido está saindo mas por onde ele está entrando. Segundo a repórter Andreza Matais, “o foco do DEM se voltou para Luciano Huck”. O DEM não é exatamente um campeão das urnas, mas é o melhor perdigueiro político que Brasília já criou. Sente o cheiro de poder e é capaz de apontar sua direção bem antes do resto da matilha.
Se o PMDB está no governo sem grandes interrupções desde o fim da ditadura militar, o DEM permanece lá desde a própria. Só não aderiu às raras administrações para as quais não foi convidado. O ex-PFL é mais resiliente do que qualquer outro partido. Mesmo sem muito voto, emplacou dois vices que sentaram na cadeira presidencial: Marco Maciel e Rodrigo Maia. Sem contar Sarney, que nunca foi do PFL no papel, mas sempre foi da família.
Nada mal para uma defecção do lado perdedor. Seu segredo é farejar as mudanças políticas antes que ocorram. Foi assim em 1985 quando, diante da inexorável derrota de Maluf no colégio eleitoral, seus pais fundadores aderiram ao oposicionista Tancredo Neves e desertaram as fileiras do PDS. Nascia o PFL.
Repetiriam a dose em 1989, abandonando o candidato do partido, Aureliano Chaves, durante a campanha presidencial. Primeiro, tentaram teleguiar Silvio Santos rumo à Presidência, inseminando-o no nanico PMB. O TSE abateu a manobra em pleno ar, e os pefelistas acabaram aderindo a Fernando Collor. Foram recompensados com ministérios – como já haviam sido por Sarney e viriam a ser por Itamar, FHC e, mais recentemente, Temer.
Conhecido pela ironia e franqueza, Claudio Lembo gosta de referir-se aos filiados de seu partido como “perseguidos pelo poder”. A definição não poderia ser mais verdadeira, desde que se compreenda o real sentido da perseguição, obviamente.
Por isso, se os resilientes ex-pefelistas fazem posição de pointer inglês com o focinho voltado para Luciano Huck, é bom prestar atenção. O que levaria o experiente DEM a apostar – de novo – num apresentador de TV sem nenhuma experiência política?
Não são poucos os motivos. O primeiro é o vácuo que se forma no campo mais popular do eleitorado se Lula não puder se candidatar. Cruzamentos de pesquisas de intenção de voto indicam que um terço dos eleitores do ex-presidente votam apenas em Lula (e, imagina-se, em quem ele endossar). Ou seja, dois terços (20% ou mais do eleitorado total) estariam sem eira e com pouca beira caso o nome do petista não apareça na urna em 2018.
Quem teria mais facilidade (ou menos dificuldade) para conquistar esse eleitor pobre e desassistido? Um apresentador de TV ultraconhecido e cujo programa consiste, basicamente, em dar assistência a pessoas pobres, ou um ex-apresentador de TV nem tão conhecido assim cuja frase, copiada, é “você está demitido”?
O fato de já ter muito recall dispensa Huck de se expor ao fogo (inimigo e amigo) de uma pré-campanha. Ele pode deixar para anunciar sua eventual candidatura aos 45 minutos do 2º tempo, ou seja, o dia 7 de abril de 2018. Essa é a data limite para quem for participar das eleições de outubro descer do umbuzeiro.
Outra vantagem de Huck é que ele é autofinanciável. Além de ter um patrimônio capaz de bancar parte da própria campanha, tem amigos com bolsos mais fundos do que a maioria.
Quais os pontos fracos do apresentador? O principal deles é não ser levado a sério como presidenciável. Seu paraquedas é vistoso demais. Vale lembrar, porém, que a inexperiência é o único defeito que não piora com o tempo. Huck é um dos patronos do “fundo cívico” eleitoral. Está sentindo o vento. O DEM fariscou.