Apesar da “mágoa” causada pelas críticas e pela falta de apoio em momentos cruciais, o governo do presidente Michel Temer (PMDB) admite a possibilidade de apoiar a postulação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), na disputa pelo Palácio do Planalto neste ano.
A afirmação é do ministro da Articulação Política, Carlos Marun, e está na entrevista que ele deu ao jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira. Marun pondera, no entanto, que o assunto só será discutido depois que for aprovada a reforma da Previdência. A votação no plenário da Câmara está prevista para acontecer no final de fevereiro.
Abaixo, a entrevista na íntegra:
Temer disputará a reeleição?
Acredito que o projeto que o governo defende e já executou deve ter um candidato.
O PMDB tem outros nomes para lançar à Presidência?
Nomes nós temos e acredito que o PMDB vai colocá-los após a conclusão da reforma da Previdência. Não um nome inarredável, do tipo, “nós não vamos sair, faça chuva ou faça sol”. Eu até ia instalar uma placa aqui: “Nesta sala, a sucessão presidencial só entra depois da Previdência”. Penso que a reforma será um fator determinante para as possibilidades de sucesso desse que venha a ser o candidato.
Há dificuldade de apoiar outro nome da base, como o do governador Geraldo Alckmin (PSDB)?
As dificuldades já foram maiores. A posição que o governador está tomando em relação à reforma da Previdência tem como consequência uma retomada de aproximação.
Há brecha para reaproximação?
Há, (a posição de Alckmin) deixa clara a existência desse espaço. Nunca houve um completo afastamento, mas, eu, Carlos Marun, fui um dos que se sentiram magoados com a pouca participação do governador no processo de combate às denúncias (contra Temer). No entanto, vejo agora essa posição firme em defesa da reforma como um fator que abre espaço para a reaproximação, e, sem dúvida, ele é uma das candidaturas que podem representar esse projeto do governo.
O que o sr. acha da eventual candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ)?
Eu não gostaria de colocar nomes, mas há alguns que estão aí. Alckmin, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia. Eu nunca ouvi do Maia que quer ser candidato, mas existe um grupo que defende a candidatura.
Não ficou rusga em relação a como o presidente da Câmara se posicionou nas denúncias?
Não, pelo contrário. Nós temos o reconhecimento do papel digno naqueles processos.
O governo tem votos para aprovar a reforma da Previdência?
Temos um ambiente muito mais favorável. Saindo de um restaurante, tinha uma mesa de jovens, e eles me disseram: “Ministro, vamos aprovar a reforma da Previdência”. Saindo do hotel, um hóspede disse: “Ministro, vamos aprovar a reforma”. Se isso está acontecendo comigo, deve estar acontecendo com os parlamentares. Isso é muito importante, por que, o que leva alguém que não é oposição, da base, a votar contra a reforma? É o medo, de que um voto favorável à reforma possa trazer impacto eleitoral negativo. É justo.
Havia desconfiança de que o governo poderia pôr um fim nas investigações da Lava Jato. A operação está chegando ao fim?
O caminho da Lava Jato é continuar, mas dentro da estrita legalidade.
O sr. acredita que o ex-presidente Lula, que será julgado na segunda instância neste mês, vai concorrer à Presidência?
O que diz a Lei da Ficha Limpa? Condenado em segunda instância é inelegível. É isso. Essa é a minha visão sobre esse processo. Agora, se o Lula deve ser condenado ou não, isso não opino.
O sr. já falou da perseguição da Lava Jato ao Temer. Não seria o mesmo caso com Lula?
Eu não falei da Lava Jato. Falei do senhor Janot (Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República). Isso eu falo e repito. A minha única contrariedade com a equipe de Curitiba é o exibicionismo de alguns procuradores. Isso é hoje um problema para a Lava Jato, o fato de que algumas pessoas se julgam superstars, não se julgam mais procuradores. Os maiores problemas para a Lava Jato hoje estão dentro da Lava Jato. O (juiz Sérgio) Moro ainda luta para manter uma linha. Facebook não é lugar para ficar dando despacho, essa é a verdade.
O sr. também foi um grande defensor do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso hoje em Curitiba.
O Eduardo Cunha eu defendi pelo processo, porque nós necessitávamos de alguém que fizesse uma defesa razoável, para que ele permanecesse como presidente (da Câmara) até o dia do impeachment (de Dilma Rousseff). Naquele momento todos concordaram. Mas eu nunca fui amigo do Cunha. Depois visitei-o, publicamente, não escondi. Ninguém precisou descobrir. Não acharam foto minha conversando com o Cunha de óculos escuros, atrás de uma pilha da caixa de cerveja (Janot se encontrou num sábado com o advogado que defende o empresário Joesley Batista em um bar em Brasília e teve uma foto divulgada).
O sr. teve que devolver a verba de gabinete, que usou para pagar a viagem até Curitiba…
Eu me apressei em devolver, deveria ter debatido se a minha visita tinha sido pública ou não. Aquela devolução não me causou muito conforto, deveria ter feito doação a alguma instituição, mas resolvi devolver. Nunca mais falei com ele nem com ninguém ligado a ele. Por que não o visitei nesse Natal? Porque sou ministro. Como aquela vez dei munição para a hipocrisia dos meus adversários, agora daria munição para a hipocrisia dos adversários do governo. Esse direito eu não tenho.
Se fosse deputado, iria de novo?
Se fosse deputado, é possível. Não sei. Se eu estivesse passando por Curitiba… Não fiz essa avaliação. Fiz a avaliação em cima das circunstâncias, agora sou ministro. Se eu for, vão criticar a mim ou ao governo? Vão criticar o governo, então agi como ministro.
E como está a saúde do presidente?
A saúde dele é boa. Mas os procedimentos exigiriam cuidados que ele não teve. Acredito que agora se conscientizou.
Ele terá que passar por alguma nova intervenção e se afastar do governo?
Não conversamos sobre isso. Não está no horizonte nenhum afastamento mais prolongado.