Em artigo publicado na edição deste domingo da Folha de S.Paulo, o principal jornal do País, o ex-governador Marconi Perillo falou pela primeira vez após o depoimento prestado espontaneamente à Polícia Federal no dia 10 de outubro. No artigo, que traz a espinha dorsal de sua defesa, Marconi afirma que foram estranhas e injustas a operação, a 9 dias das eleições, e a prisão, efetuada três dias depois.
“Foram estranhas e injustas a operação a nove dias das eleições e a medida de restrição de liberdade de 10 de outubro”, afirma Marconi no texto, intitulado A força da verdade. “Confio na Justiça do meu país. Minha inocência será provada e exigirei que as apurações se deem à luz da Constituição”, diz o ex-governador, lembrando que seu nome “não foi associado a corrupção, vantagens pessoais, privilégios em meus governos ou enriquecimento ilícito”.
Leia a íntegra do artigo:
A força da verdade
Marconi Perillo
Em 16 de maio de 2017, apresentei à imprensa de Goiás o contraponto técnico às menções ao meu nome por executivos da Odebrecht. Em entrevista realizada poucos dias após as delações, me coloquei à disposição das autoridades para os esclarecimentos necessários.
Essa tem sido minha conduta ao longo de minha vida pública. Jamais me furtei a colaborar com as autoridades, porque tenho a convicção de que esta é a obrigação maior dos detentores de mandatos eletivos. Quando da deflagração da operação que procedeu busca e apreensão em meus endereços, em 28 de setembro último, a nove dias do primeiro turno, imediatamente me coloquei à disposição da Polícia Federal.
Tenho a consciência tranquila quanto à minha inocência. Também em maio de 2017, manchete desta Folha chamava a atenção para “erros e contradições” nas delações. A reportagem informava que “depoimentos de delatores da Odebrecht e materiais entregues como prova” tinham “erros factuais, contradições e inconsistências”.
Os próprios executivos dizem que jamais obtiveram vantagens em meus governos. Chegam a insinuar tentativas de promoção de ingerências em concorrências públicas, para ao final reconhecerem que não alcançaram seus objetivos criminosos.
É necessário reforçar que meu nome não foi associado a corrupção, vantagens pessoais, privilégios em meus governos ou enriquecimento ilícito. Os depoimentos se restringem à suposta prática de caixa 2, que tampouco ocorreu — e será desmontada. Todas as doações de campanha se deram segundo a legislação de 2010 e 2014 e foram declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.
Em que pese o fato de, à época, a captação de doação de empresas fosse permitida, não participei de negociações de valores, para resguardar as gestões de tentativas de obtenção de benefícios. Não havia notícia sobre o envolvimento da Odebrecht nas denúncias que se seguiram. Não há nenhum indício, evidência e menos ainda provas de que minhas campanhas tenham recebido recursos de caixa 2.
Fiz gestões pautadas pela transparência e pela austeridade. Nos nossos dois últimos mandatos, Goiás foi à liderança do Ranking de Transparência do MPF, com a segunda maior nota do país. Como senador, liderei as articulações da votação da Lei da Ficha Limpa. De volta ao governo, em 2011, adotei a nova lei como critério para ingresso na gestão e aprovamos a Lei Anticorrupção.
Diante da minha postura de colaboração com a Justiça; do compromisso com a transparência e a probidade; dos erros e contradições nos depoimentos dos delatores; da reconhecida inexistência de benefícios e vantagens da Odebrecht em meus governos; da total ausência de provas de prática de caixa 2, reputo estranha e injusta a operação a nove dias das eleições e a medida de restrição de liberdade de 10 de outubro.
Confio na Justiça do meu país. Minha inocência será provada e exigirei que as apurações se deem à luz da Constituição, assegurado o direito à ampla defesa e afastada a mediação política. Nas palavras de Montesquieu, “quando, num governo popular, as leis não são mais executadas, o Estado já estará perdido”.