Uma nota oficial da Saneago, publicada em O Popular, esdruxulamente assinada por dois presidentes, (o atual) José Carlos Siqueira e (o futuro) Jalles Fontoura, a propósito da operação do Ministério Público Estadual que investiga irregularidades praticadas por fornecedores da companhia, leva a uma conclusão errada sobre a posição do Governo do Estado no episódio, graças ao mau uso do advérbio “certamente”.
A nota afirma que “a Saneago e, certamente, o Governo do Estado de Goiás apoiam integralmente (…) a operação instaurada pela Procuradoria Geral de Justiça, com apoio das Polícias Civil e Militar do Estado, visando apurar irregularidades que possam ter ocorrido na contratação de fornecimento à empresa”.
O texto, longo e sinuoso, com verbos repetidos em uma comprida e única oração, o que sugere ter sido produzido por um amador das letras, abusa das vírgulas e sugere que há dúvidas sobre se o Governo do Estado apoia a investigação do Ministério Público, ao escrever: “a Saneago e, certamente, o Governo do Estado de Goiás apoiam”. Ou seja: a Saneago apoia as investigações, mas o Governo do Estado talvez sim, talvez não. Provavelmente sim, provavelmente não. Daí, o “certamente apoia”. Caso a intenção fosse deixar bem clara e efetiva a posição do governo do Estado a respeito da operação, o advérbio “certamente”, que insinua alguma dúvida, seria dispensável. Os dicionários definem “certamente” como a expressão de dúvida, mesmo em baixo grau.
Do meio para o fim, para completar, a nota se perde e propõe-se a defender a lisura de todas as licitações e compras não só da Saneago, como de qualquer órgão do Governo do Estado, mas não sem deixar claro uma boa dose de antipatia pela operação do Ministério Público, ao afirmar que a empresa tomou conhecimento das investigações através do site do MP..
De onde se conclui que administrar a Saneago é tarefa para os técnicos em engenharia e em gestão pública. Escrever notas oficiais, esse deveria ser um serviço para os profissionais da palavra.
