Veja texto publicado no blog do jornalista Josias de Souza:
“Somos de oposição, mas não somos contra o Brasil”, disse ao blog o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, sobre a decisão dos governadores do PSDB de aceitar o convite para dialogar com Dilma Rousseff. “No PSDB, não confundimos a instância do Executivo com a instância parlamentar. Cada um tem o seu papel. O meu papel e o de outros companheiros, como o Geraldo Alckmin, é o de governar. Para nós, quanto menos crise tiver, melhor. Queremos ajudar o país. Não queremos tocar fogo no circo.”
Perillo afirmou que, submetidos aos efeitos da crise econômica, todos os governadores têm as mesmas preocupações. “Não importa o partido, sofremos as mesmas consequências. Apesar de o Centro-Oeste e Goiás crescerem mais do que a média do Brasil, a gente também enfrenta os desdobramentos da crise. Nenhum governador tem mais de onde cortar despesas. E as receitas minguam à medida que a atividade econômica se retrai. Cai a arrecadação. E a conta não fecha.”
Perillo relatou que a principal reivindicação dos governadores é a de que o governo federal libere os Estados para contrair novos empréstimos, avalizando-os. “Goiás e vários Estados têm espaço fiscal para contrair esses empréstimos. Mas a União precisa liberar.” Ele se refere a linhas de crédito de organismos internacionais e também a financiamentos de bancos oficiais —Caixa, Banco do Brasil e BNDES.
“Os governadores não podem pagar o pato do ajuste”, disse Perillo. “Se tivermos espaço para investir, para financiar PPPs [Parcerias Público-Privadas], vamos investir em infraestrutura e gerar empregos. Isso significa injeção direta na veia do emprego. Ajuda a tirar o país da letargia.”
Afora o aval para o endividamento, Perillo informa que há outros temas que interessam aos governadores. Todos envolvem dinheiro. Como conciliar os interesses se a União economiza até no cafezinho? “Não vamos colocar a faca no peito da presidente”, disse Perillo. “Mas temos que levar a ela questões que são importantes. A liberação dos investimentos, por exemplo, criaria um círculo virtuoso em meio à crise.”
“Outra questão que nos une é a segurança pública, hoje uma responsabilidade exclusiva dos governadores. Na campanha eleitoral, tanto a Dilma quanto o Aécio [Neves] falaram muito em criar um fundo nacional de segurança, para compartilhar responsabilidades. Depois da campanha veio essa crise. E ninguém falou mais no assunto. É preciso retomar.”
Perillo prosseguiu: “O governo federal tem no Funpen, o Fundo Penitenciário Nacional, R$ 11 bilhões retidos para fazer superávit primário. Esse dinheiro deveria ser usado na construção de presídios. E nós somos obrigados a lidar com cadeias superlotadas. Temos um monte de sentenças pendentes de execução e não tem lugar para colocar os presos.”
Segundo o governador goiano não há, por ora, convergência quanto à pretendida reforma do ICMS. O governo cogita criar um fundo de compensação para que nenhum Estado operca receita. O problema, diz Perillo, é que esse fundo está condicionado à repatriação de dinheiro enviado por brasileiros ao exterior ilegalmente. “Quem pode garantir que esse dinheiro existe no montante imaginado?”, indaga Perillo. “Se existir, quem assegura que será suficiente?”
De resto, os governadores compartilham do receio de Dilma de que o Congresso continue a aprovar projetos criando novas despesas. “Essas coisas têm reflexo no caixa do governo federal, mas acabam impactando também as contas dos Estados.” Resta saber qual é o real poder dos executivos estaduais de influir no voto de parlamentares que insistem em impor derrotas ao governo no Legislativo.
A presença dos governadores alterou a rotina de Brasília. Eles chegaram mais cedo para conversar antes do encontro com Dilma. Houve três reuniões. Numa, conversaram o peemedebista Luiz Fernando Pezão (Rio), o petista Fernando Pimentel (Minas) e os tucanos Geraldo Alckmin (São Paulo) e Perillo. Noutra, almoçaram juntos todos os governadores, exceto os do PSDB. Na terceira, foram à mesa apenas os gestores tucanos. No momento, todos se encontram no Palácio da Alvorada.