O relatório da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) que afirma, de forma categórica, que Goiás não se enquadra nos critérios de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) do governo federal, como quer o governador Ronaldo Caiado (DEM), é uma verdadeira bomba para uma gestão já envolvida em uma profunda crise e em péssimas notícias com apenas 15 dias de vida.
A verdade é uma só: somente Caiado, a supersecretária forasteira da Economia, Cristiane Schmidt, importada do Rio de Janeiro, e a ex-secretária da Fazenda Ana Carla Abrão Costa, que deixou sua vida de luxo em São Paulo para tripudiar sobre o governo passado, queriam o RRF, cada um por razões específicas, mas todos com um ponto em comum: fugir de suas responsabilidades.
Com o RRF, Caiado quer destruir o legado deixado pelo ex-governador Marconi Perillo (PSDB), na tentativa de justificar o eventual fracasso de sua administração – visto como cada vez mais provável. O relatório da STN derruba de vez o festival de fake news do governador sobre a terra fiscal arrasada herdada de Marconi e de José Eliton, governador entre os dois. Deixa Caiado numa situação vexatória ao confirmar que Goiás manteve o rating C em 2018, e não caiu para D, como propagado pelo governador como informação privilegiada atribuída ao ministro Paulo Guedes, padrinho de Schmidt.
A supersecretária carioca, por sua vez, quer o RRF para encontrar um atalho para o árduo trabalho de comandar as contas públicas estaduais, e isto de qualquer Estado, mesmo aqueles em condições melhores que a de Goiás. A adesão ao RRF é, nada mais nada menos, uma permissão para trabalhar em bases bem mais favoráveis do que a de Estados que fizeram o dever de casa. Na verdade, um cheque em branco para passar por cima de direitos e demandas dos servidores e da sociedade, quase uma ditadura fiscal. Aí seria moleza para Schmidt, que não teria de prestar contas a Caiado e a Guedes por seu fracasso, já que compromisso com o povo de Goiás ela não tem nenhum.
Já Ana Carla encontrou no RRF o caminho para uma vingança pessoal, o desejo de revanche de uma menina paulistana que viu seus desmazelos à frente da Fazenda revelados já nos primeiros dias após deixar o cargo. Entre elas, uma dívida de R$ 850 milhões que ela simplesmente tirou dos balanços de sua gestão e deixou para seus sucessores pagarem. A negativa da STN mostra agora que, para o desespero da filha de Lúcia Vânia (PSB), os secretários da Fazenda seguintes – Fernando Navarrete e Manoel Xavier – não apenas fizeram a parte deles como também a dela. Que feiura.
Caiado, Schmidt e Ana Carla fizeram uma aposta errada na RRF. Continuarão forçando a barra para aderir à intervenção federal, pelos motivos expostos acima. De toda forma, já erraram feio. Muito feito.