“Transformar ajuste fiscal em obsessão é um erro. O ajuste fiscal é uma miragem. Sempre que parece que nos aproximamos dele, ele escapa e fica mais distante. Foi o que aconteceu com o governo federal no 1º semestre. Essa obsessão é uma tragédia porque não há ajuste fiscal sem crescimento”, diz, em resumo, o ex-ministro e economista Delfim Netto, em entrevista neste domingo ao Estado de S. Paulo.
O alerta de Delfim Netto não serve só para o governo federal. Ele precisa ser considerado também em Goiás, onde, sete meses depois de empossada no cargo, a secretária da Fazenda, Ana Carla Abrão Costa, que tem forte identificação com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ainda tem como centro preferencial do seu discurso… o tema do ajuste fiscal. Assim como Levy.
Do ponto de vista do governador Marconi Perillo, o ajuste fiscal já ficou para trás. Medidas drásticas foram tomadas, a máquina administrativa reduzida para apenas 10 secretarias, comissionados foram dispensados em massa, despesas foram cortadas no varejo e no atacado. Mas Marconi rapidamente virou a página e deflagrou um ciclo de inaugurações de grandes e pequenas obras, ao mesmo tempo em que criou condições para lançar Goiás em uma trajetória de protagonismo nacional.
A secretária Ana Carla, no entanto, continua apegada à obsessão” do ajuste fiscal, fazendo exatamente o que Delfim Netto condena, “mesmo porque não existe ajuste fiscal sem crescimento” – detalha, sintomaticamente o ex-ministro. O que quer dizer: Goiás, que é um dos Estados menos atingidos pela crise da economia nacional, tem de sair do atoleiro do ajuste e voltar a discutir e a praticar políticas públicas de desenvolvimento, na linha do que propõe, por exemplo, o secretário do Planejamento, Thiago Peixoto, idealizador da movimentação dos governadores do Centro-Oeste em torno da pauta do crescimento.
Marconi e parte do governo já entraram nesse novo caminho. Falta a titular da Sefaz fazer o mesmo.